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Fígado sobrecarregado: hábitos podem prevenir e reverter a gordura hepática, que já afeta 30% dos adultos

Fígado sobrecarregado: hábitos simples ajudam a prevenir e reverter a gordura hepática O fígado é a central de processamento do metabolismo corporal. Quand...

Fígado sobrecarregado: hábitos podem prevenir e reverter a gordura hepática, que já afeta 30% dos adultos
Fígado sobrecarregado: hábitos podem prevenir e reverter a gordura hepática, que já afeta 30% dos adultos (Foto: Reprodução)

Fígado sobrecarregado: hábitos simples ajudam a prevenir e reverter a gordura hepática O fígado é a central de processamento do metabolismo corporal. Quando há ganho de peso, resistência à insulina e inflamação, o órgão acumula gordura e, em parte das pessoas, evolui para inflamação e cicatrização (fibrose). Médicos ouvidos pelo g1 explicam como prevenir e tratar doenças no fígado. Além do excesso de calorias líquidas (açúcar e álcool), os ultraprocessados, o sedentarismo e o sono ruim contribuem para a esteatose (gordura) hepática metabólica (MASLD), doença assintomática que hoje atinge cerca de 30% dos adultos e cresce junto com a obesidade e diabetes. Médicos chamam a condição de “doença cardiometabólica do fígado”, que caminha junto com o diabetes, pressão alta e risco cardiovascular. A esteatose é comum em indivíduos com obesidade, mas também pode ocorrer em indivíduos magros com alterações metabólicas, como nos casos de diabetes. Cuidar do fígado significa cuidar do conjunto dos hábitos: alimentação, movimento, sono e álcool, alerta a endocrinologista e professora da UNIFESP Carolina Janovsky. Fígado cansado: hábitos simples ajudam a prevenir e reverter a gordura hepática Adobe Stock O “combo” que mais pesa para o fígado é: açúcar e bebidas adoçadas, ultraprocessados, álcool (mesmo moderado, quando somado à obesidade) e sedentarismo. Remédios comuns raramente causam danos hepáticos, mas o uso incorreto deles é arriscado. O hepatologista e diretor da Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH) Juliano Machado Oliveira destaca que a grande preocupação é com o abuso de bebidas alcoólicas nos pacientes que já têm a esteatose. Confira as explicações de Janovsky para cada fator de risco e entenda melhor: 🧁 Açúcar e bebidas adoçadas: reduzir o açúcar livre por 8 semanas diminui a gordura no fígado e as enzimas hepáticas. 🍣 Ultraprocessados: estudos em grandes coortes associam maior consumo a maior risco de esteatose e doença hepática grave (evidência ainda, majoritariamente, observacional). 🥃 Álcool: em pessoas com MASLD, o álcool potencializa o dano. Mesmo uma quantidade que muitas pessoas consideram social pode ser suficiente para potencializar o dano hepático quando o fígado já está sobrecarregado por causas metabólicas. Para o risco de cirrose, o limite para pessoas normais (sem gordura hepática) é de: 👩‍🦰 Mulheres: de 2 a 4 doses por dia (equivalente a 1 a 2 taças de vinho ou 2 latas de cerveja). 👨🏻‍🦱 Homens: de 3 a 5 doses por dia. Sedentarismo: o exercício físico reduz a gordura do fígado mesmo sem perda de peso. Um período de 12 semanas já mostra resultados. 💊 Remédios: a maioria é segura quando bem indicada. O risco maior é o uso indevido. O omeprazol e antidepressivos podem causar dano idiossincrático raro. Mas tudo depende de dose, tempo e suscetibilidade. “Não se automedique. Use a menor dose eficaz, evite associar fármacos com a mesma substância e alinhe‑se com seu médico”, alerta Janovsky. Paracetamol: é seguro nas doses corretas, mas a overdose é causa comum de hepatite aguda. Em adultos saudáveis, é permitido até 3–4 g/dia; doses maiores (ex.: >7,5–12 g em 24h) são tóxicas. Em quem tem consumo crônico de álcool ou doença hepática, são necessários limites menores, com orientação médica. Omeprazol (e outros IBPs): elevações leves e transitórias de enzimas podem ocorrer; hepatite clinicamente evidente é incomum e costuma resolver-se ao suspender. Antidepressivos: a maioria dos ISRS tem risco baixo; há moléculas com risco maior (como agomelatina e tricíclicos). Recomenda-se monitorar os sintomas e eos xames, durante o uso. Oliveira reforça que o estilo de vida moderno, especialmente associado ao padrão alimentar e ao sedentarismo, é responsável pelo aumento das disfunções metabólicas marcadas pela obesidade, pressão alta, diabetes, alterações de colesterol e de triglicérides: “Estes distúrbios metabólicos causam lesão em diversos órgãos. A soma de agressores pode levar à progressão mais rápida para as fases mais graves da doença hepática, como a cirrose”, destaca. Esteatose hepática metabólica é assintomática, mas pode ser identificada cedo Assim como o início das placas de colesterol nas artérias do coração, a esteatose hepática metabólica também não causa sintomas. Mas a vantagem é que exames de imagem detectam com grande facilidade a doença do fígado, em uma fase em que o indivíduo ainda não sente nada. Com isso, é possível cuidar do problema antes que a doença leve a uma maior gravidade em órgãos vitais, evitando sua progressão. Mas o ganho não é só para o fígado! “O tratamento com dieta, atividade física e medicamentos para controle metabólico é importante para prevenir a progressão de doenças em outros órgãos também, como o coração, rins e cérebro”, acrescenta Oliveira. Prevenção e tratamento Janovsky destaca orientações práticas para quem visa prevenir doenças no fígado, como a esteatose hepática metabólica (MASLD) e também para quem já tem esse diagnóstico: Coma comida de verdade: mais feijão, verduras, frutas, ovos e peixes Corte bebidas açucaradas Modere e evite álcool Durma de 7 a 8 horas por noite Pratique exercício físico por um período de 150 a 300 minutos por semana. Em caso de obesidade e (ou) diabetes, peça ao seu médico a avaliação do FIB-4 (um marcador de risco). Em caso de alto risco, o médico pode solicitar a elastografia (exame de imagem parecido com uma ultrassonografia que mede a elasticidade do fígado). ➡️ Para quem já tem o diagnóstico de MASLD, essas recomendações devem ser adotadas junto com a medicação. Gordura no fígado: é possível reverter só com hábitos? Em muitos casos, é possível reverter o quadro de gordura no fígado com mudança de hábitos. Mas tudo depende da tendência de cada um. Alguns, mesmo com muito sacrifício, podem precisar da ajuda de medicamentos para controlar a doença metabólica. E esses tratamentos são para toda a vida, evitando que a doença progrida no fígado e nos outros órgãos, explica Oliveira. Peso: a perda de 7 a 10% do peso costuma levar à redução da gordura, melhora da inflamação e pode regredir a fibrose. A perda igual ou maior que 10% levou a maiores taxas de resolução de MASH e regressão de fibrose em estudo com biópsia. Dieta: cortar o açúcar livre por 8 semanas reduz a gordura hepática e ALT. Exercício físico: há melhora independente do peso e 12 semanas já mostram resposta na gordura hepática. Medicamentos: para casos com fibrose moderada a avançada, surgiram terapias específicas, como o resmetirom, aprovado pela FDA em março de 2024. Limpar ou “desintoxicar” o fígado funciona? Os médicos explicam que não existe mágica. O fígado já é um órgão que detoxifica. Dietas chamadas de detox, chás e cápsulas não limpam o fígado e algumas ervas e suplementos podem machucá‑lo (como o extrato de chá verde, garcínia e kava). “Revisões mostram pouca ou nenhuma evidência de benefício das dietas detox. Ao contrário, crescem os casos de lesão hepática por suplementos (HDS). Desintoxicar é comer comida de verdade, dormir bem e evitar excessos. Não há sucos milagrosos. Se for usar algo natural, converse antes com seu médico”, orienta Janovsky. A saúde no Brasil O Brasil vive hoje uma epidemia de excesso de peso - dados de 2023 apontam que 61,4% dos adultos têm sobrepeso e (ou) obesidade. Oliveira defende a necessidade urgente de promoção de bons hábitos: “Não basta divulgar o que é certo ou errado, mas facilitar o acesso às coisas que fazem bem. Como investir na produção e distribuição a baixo custo de alimentos naturais e frescos, oferecer dieta saudável nas escolas e proibir nestes locais o uso de alimentos prejudiciais”, afirma. Janovsky acrescenta que o SUS oferece linhas de cuidado para obesidade e pode usar ferramentas simples e baratas para classificar risco na atenção primária, reservando a elastografia aos casos indicados. O desafio é escala e organização, segundo ela. “Com rastreamento dirigido e cuidado multiprofissional da obesidade, o SUS pode reduzir a cirrose e o câncer de fígado ligados à MASLD”, afirma Janovsky. LEIA TAMBÉM: Fígado abstêmio: o que acontece com seu fígado após 24 horas, 7 dias ou 30 dias sem álcool

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